One Life - Capítulo III


Quando acordei já ouvi o barulho dos meus pais saindo para o trabalho. Espreguicei e levantei ainda com sono. Fui ao banheiro, fiz minha higiene matinal, organizei minha bagunça do dia anterior e fui para cozinha. Já havia café pronto, preparei um sanduíche e comi. Lembrei que gostaria de falar com Harry, mas ainda eram 7 da manhã. Como sou muito ansiosa, ignorei o horário, fui até meu quarto e troquei de roupa.


Não peguei nada. Apenas fui para casa do Harry. Cheguei na porta e nem precisaria bater, pois estava apenas encostada, já aberta. Dei duas batidinhas e entrei.

Eu: Harry?

Fui para o quarto dele, mas não estava lá, então fui a cozinha e também não tinha ninguém. O chamei mais uma vez e nada dele aparecer. Será que ele havia saído e deixado a porta aberta? Fui até o quarto dos pais dele e a cama estava bagunçada. Como eles não dormiram em casa, já imaginei o que poderia ter acontecido aqui e pude ter ainda mais certeza quando vi um pacote de camisinha aberto em cima do criado mudo. Balancei a cabeça negativamente e estava saindo do quarto quando ouvi um barulho e conversas na sala. Fui depressa pra lá e vi que os pais de Harry tinham acabado de chegar.

Mãe (Harry): Oi Genna. Cuidou bem do Harry enquanto estávamos fora? -sorriu e me deu um abraço-
Eu: Oi gente! Na verdade cheguei aqui um pouco antes que vocês e a porta estava aberta, então entrei, fui a todos os cômodos da casa, mas ainda não sei onde ele está. -os dois se olharam-
Pai (Harry): Vai ver ele deu uma saída rápida.
Eu: Pode ser.
Mãe (Harry): Se quiser pode aguardá-lo aqui. Enquanto isso guardaremos nossas coisas e preparo um café para nós.
Eu: Ok. 

Me sentei no sofá e eles foram para o quarto. Comecei a sentir uma agonia muito grande em ficar ali sentada esperando. Então levantei e peguei o telefone da casa para ligar para Harry, já que havia deixado o meu celular em casa. Começou a chamar, e ouvi o toque do celular dele em alguma parte da casa. Era a música preferida dele da banda Pink Floyd. Comecei a seguir o toque e parecia vir do porão. A porta do porão ficava na sala embaixo da escada. Desliguei o telefone e abri a porta. Comecei a descer as escadas do porão.
Lá embaixo tinha um sofá, uma TV, um tapete e uma estante com alguns entulhos. Eu e Harry gostávamos de ficar lá assistindo filmes em dias frios. 
Terminei de descer as escadas e vi Harry deitado sobre o tapete com um copo caído ao lado e o resto de alguma bebida derramado no tapete. Sorri e me aproximei fazendo uma careta.

Eu: Não acredito que esse idiota dormiu aqui. -falei baixinho- HARRY! -gritei para assustá-lo e ele continuou dormindo- Olha o que você fez no tapete! Acorda, seus pais acabaram de chegar! -ele ainda estava dormindo, então agachei ao lado dele e o sacudi- Vamos Harry! -ele continuava sem reação- Harry, para, isso não tem graça! Acorda! -meu coração começou a acelerar no momento em que percebi que não parecia uma brincadeira- Harry! Harry! -continuei o sacudindo agora desesperada- Harry, por favor... HARRY! 

Ele estava muito pálido e frio. Eu queria continuar acreditando que era uma brincadeira, mas no fundo eu já sabia que não era e comecei a chorar desesperadamente. 

Eu: HARRY POR FAVOR! HARRY! 
Mãe (Harry): Genna o que está... Harry? 

Eu continuava gritando, parecia que meu mundo havia parado ali e não existia mais nada a minha volta. Senti algúem me puxando e me afastando de Harry. Então tudo voltou a tona de novo e eu via o pai de Harry em cima dele tentando reanimá-lo, e depois a mãe dele pareceu tão desesperada quanto eu tentando ir até ele, mas o pai dele a segurou. Entrei em um estado de pânico. Fiquei em silêncio como se estivesse anestesiada olhando aquela cena horrível.

Pai (Harry): Temos que chamar os socorros, rápido. 

Tudo começou a ficar escuro, e então apenas senti meu corpo ir para o lado e tudo apagar...

**

Acordei sentindo uma dor muito forte no peito. Percebi que estava no quarto de um hospital e havia um homem de branco do meu lado que provavelmente era um médico. Olhei ao redor e vi minha mãe chorando abraçada ao meu pai, então me dei conta de que o que aconteceu não havia mesmo sido um pesadelo.


Eu: Mãe... -ela veio até mim e pegou em minha mão-
Mãe: Você desmaiou. Teve um grande susto emocional.
Eu: Mãe... -comecei a chorar novamente-
Mãe: Não se preocupe. 

Eu mal conseguia falar. A vontade de chorar e o desespero que eu sentia eram maior que tudo. Não queria acreditar de forma alguma que aquilo estava acontecendo.

Eu: Isso não pode estar acontecendo.

Minha mãe olhou para mim visivelmente bem abatida enquanto o médico saiu do quarto com meu pai. Ela limpou minhas lágrimas e segurou meu rosto com as mãos.

Mãe: Nada que eu disser vai fazer essa dor passar, mas nós estamos aqui e vamos viver esse luto com você.
Eu: Ele estava bem. Eu conversei com ele ontem. Ele me disse que...
Mãe: Filha, o que Harry estava vivendo não era fácil.
Eu: Ele me prometeu mãe. -eu não conseguia parar de chorar- Como isso aconteceu?
Mãe: A perícia ainda está investigando. Acredita-se na possibilidade de suicídio.
Eu: Não... Não é possível.
Mãe: Harry não aceitava a doença Genna.
Eu: Mas ele estava lutando, ele me disse que não iria desistir. Ele me disse!
Mãe: Não há nada confirmado, mas ele pode ter dito isso para deixá-la tranquila sobre ele Gen.
Eu: Não. Não. Mãe, eu vi ele no chão. Pensei que ele tivesse dormido ali... Eu não sabia que...
Mãe: Olha, Genna, agora é melhor você não ficar relembrando isso. Comprei um remédio pra te deixar mais calma.
Eu: Não quero remédio nenhum mãe. Eu quero sair daqui.
Mãe: Você não pode filha! Precisa se recuperar desse susto.
Eu: Me deixa um pouco sozinha, por favor. -ela exitou um pouco, mas balançou a cabeça positivamente e se afastou-
Mãe: Se precisar de algo estaremos aqui.
Eu: Obrigada.

Ela se retirou do quarto com meu pai. Eu ainda sentia muita vontade de chorar, mas parecia não haver mais lágrimas. Meus olhos ardiam muito e meu peito doía toda vez que lembrava que isso era real. Harry estava morto e eu não pude ajudá-lo, não pude fazer nada para impedí-lo. Minha cabeça girava, eu não conseguia raciocinar, apenas aquela imagem me atormentava e o fato de acreditarem que poderia ser suicídio me deixava ainda mais atordoada. Harry não faria isso. Apesar da doença, apesar da dor, da fraqueza, ele ainda tinha amor à vida, ele me prometeu que não desistiria, ele me disse que lutaria e eu acreditei. Por que ele faria isso agora? Como eu vou viver sabendo que ele se foi? Sabendo que perdi um amigo, um irmão, uma pessoa que me fazia tão bem?



Eu não sabia de onde tiraria forças para passar por isso. Não sabia nem se poderia ser capaz de aguentar, mas precisava de respostas. Algo me dizia que isso não estava certo. Eu sei que não podia tê-lo de volta, mas pelo menos saber o porquê disso. Harry não podia ter feito isso comigo. Não dava pra ficar ali vendo aquelas gotas de soro caindo e entrando na minha veia sem fazer nada. 

Eu: MÃE! -rapidamente minha mãe entrou no quarto e se aproximou de mim- Eu preciso sair daqui, preciso saber o que de fato aconteceu.
Mãe: Genna, eu entendo, mas não há respostas ainda. 
Eu: Eu quero sair daqui. 
Mãe: Filha, não piore seu sofrimento. -ela voltou a chorar-
Eu: Por favor, eu não posso ficar aqui nesse hos... 

Antes de completar minha fala meu pai entrou no quarto acompanhado de dois policiais, que vieram até mim. Me sentei na cama e os encarei.

Policial: Genna Gillies? -se dirigindo a mim. Acenei positivamente com a cabeça- Viemos solicitar seu comparecimento na Delegacia para prestar seu depoimento em virtude de novas informações para a investigação.
Eu: Eu vou. -falei sem exitar-
Policial: Hoje às 17 horas. -acenei novamente- Obrigada.
Mãe: Mas hoje ela não está em condições de prestar depoimento. 
Eu: Eu vou mãe. 

Os policiais esperaram o sinal de concordamento da minha mãe e saíram. Meu pai se aproximou de mim.

Pai: Você tem certeza filha?
Eu: Tenho. -falei firme e respirei fundo-

**

Por volta das 11 horas o médico entrou no quarto e me deu alta do Hospital. Eu ainda me sentia horrível, mas sabia que era meu estado emocional e não físico. Saí do quarto em encontro a meus pais que me aguardavam na porta.
Saímos do Hospital, entramos no carro e fomos até em casa em silêncio. Fui direto para o quarto e me deitei. Após alguns minutos minha mãe entrou no quarto. 
Mãe: Já preparei o almoço. Quer que eu traga para você?
Eu: Estou sem fome. -respondi olhando para parede, da qual  não tirei os olhos desde que entrei no quarto-
Mãe: Ta bom. Quando precisar de algo estaremos aqui.
Eu: Ok.

**

Ela saiu do quarto e comecei a chorar novamente. Passei a tarde me revirando na cama, mordendo o travesseiro, chorando, olhando para a parede parecendo estar anestesiada. Tudo havia perdido o sentido pra mim, eu não conseguia mais pensar mais em nada. Estava sentada na cama paralisada olhando para o nada quando meu pai entrou no quarto e sentou a meu lado.

Pai: Vamos... Já são 16:30 e a Delegacia fica longe daqui. 

Abaixei a cabeça e as lágrimas voltaram a transbordar em meu rosto. Meu pai me abraçou suspirando. Ele também sentia por esse acontecimento, mas estava muito mais forte que eu. Ninguém era tão próximo ao Harry quanto eu. Ninguém. 

Eu: Eu... Não consigo... Entender. -ele me abraçava tentando me passar força- Vamos. -nos soltamos e me levantei limpando as lágrimas-
Pai: Não vai tomar um banho?
Eu: Não é preciso.

Comecei a sair do quarto e ele veio logo atrás. Fomos para o carro e no caminho para delegacia começo a me lembrar de ter visto Selena saindo da casa do Harry de madrugada. A polícia tinha que saber disso. Eu iria prestar todas as informações possíveis, desde que ao final tudo seja esclarecido, pois era difícil acreditar que Harry pudesse mesmo ter se matado.

(Continua...)


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