One Life - Capítulo IV


~1 ano depois...

Hoje faz um ano da morte do Harry. Agora neste cemitério diante do túmulo dele, já posso encarar melhor os fatos. Ainda me dói, sinto saudade e às vezes me pego chorando lembrando da compainha dele, mas as coisas ficaram mais fáceis depois da terapia. 11 meses frequentando um consultório de psicologia. E eu que pensava que terapia era coisa pra pessoas loucas, agora vejo que se não fosse por ela (minha psicóloga) hoje eu poderia não ter aguentado. Fiquei sem comer, nem beber, apenas trancada no quarto deitada na cama chorando por muitos meses, não conseguia dormir e quando acontecia tinha sonhos e pesadelos com Harry, isso me rendeu um quadro depressivo, desidratação, e princípio de anemia. 

Agora estou começando a encarar, agora penso que Harry, onde quer que esteja, não gostaria de me ver morrer aos poucos por ele ter ido embora antes, afinal, ele ficaria aqui sofrendo, e talvez eu não tivesse suporte para vê-lo em uma cama, careca e fraco. 
Hoje, o sofrimento não me desgasta mais como antes, mas minha vida ainda está parada, ainda não tenho ânimo para sair, para conversar, para fazer planos para o futuro. Minha psicóloga disse que preciso me desprender do passado, mas isso ainda é uma tarefa difícil pra mim. 
A polícia confirmou. A causa da morte foi suicídio por envenenamento. Ele tomou suco e misturou com uma substância química letal. Selena deu o depoimento dela, disse que os dois ainda tinham um caso, ela passou a noite com ele, mas foi embora de madrugada, foi exatamente o que eu vi pela janela. Ela e o Justin ficaram um tempo separados, mas agora estão juntos de novo. Eu não entendo como ele consegue. Mas enfim, o que eu não conseguia esquecer mesmo é a promessa de Harry que ele não cumpriu. Pensar nisso me traz uma mágoa enorme.

Xx: Genna? -olhei para trás e meu pai estendia sua mão para mim- Vamos? -acenei sim com a cabeça, coloquei uma flor sobre o túmulo e fui até ele-


Meu pai havia acabado de chegar do trabalho e pedi que me trouxesse para fazer uma visita ao Harry. Ainda me lembro como foi difícil para mim o dia do enterro. Meu pai me abraçava e eu deixava seu paletó encharcado com minhas lágrimas. A chuva estava forte, quase uma tempestade e os pais dele arrasados. Foi o pior dia da minha vida. 


Pai: Vamos comer algo agora?

Eu: Não tenho fome pai.
Pai: Eu posso passar no Starbucks e comprar algo para nós, sei que você gosta de lá.
Eu Ta bom. Um café.
Pai: Só um café?
Eu: Sim. 
Pai: Tudo bem. Toma. -me entregou a chave do carro- Já volto. -me beijou na testa-

Fui para o carro, sentei no banco carona e olhei a portaria do cemitério pela janela. Meus pensamentos começaram a ficar ruins, pesados, então liguei o som do carro e estava tocando Dusk Till Dawm. Peguei meu celular, mas não tinha mais nenhuma rede social. Apaguei todas, afinal, não tenho amigos. Fiquei batendo os dedos sobre o celular até meu pai voltar.


Pai: Eu trouxe esse pão recheado que sei que você adora e uns cookies de chocolate.

Eu: Não precisava pai.

Ele me entregou o pacote e o café. Meu pai sempre foi ótimo no volante, ia tomando seu café e dirigindo e para não fazer feio, comi o pão que ele trouxe e tomei meu café.
Chegamos em casa, minha mãe tomava banho, peguei os cookies e fui para meu quarto. Da janela dava pra ver o terreno da casa de Harry com uma placa enorme escrito "Á Venda". Dois meses depois da morte dele seus pais colocaram a casa à venda e se mudaram pra outra cidade. Eu entendo eles. Mas já fazia tanto tempo que aquela placa estava lá e nenhum comprador aparecia. Alguns interessados algumas vezes, mas nada de negócio fechado. Talvez estivessem pedindo um preço muito alto. Fechei a cortina e deitei na cama. Acabei dormindo e acordei com o barulho da minha gaveta batendo. Abri meus olhos, esfreguei o rosto e vi minha mãe perto do meu guarda roupa.

Mãe: Desculpa filha, te acordei. Estava guardando seu uniforme. Faz tanto tempo que você não vai à faculdade. -ela disse se aproximando da cama-

Eu: Mãe, eu não sei se consigo... -me interrompeu-
Mãe: Não se preocupe Gen. Você só vai voltar quando achar que deve. 
Eu: Eu sei que tenho que voltar, eu sinto falta das aulas.
Mãe: É mesmo? -pareceu espantada- Bom, seria ótimo você voltar a ter uma vida fora desse quarto. 
Eu: Mas ainda não sei se estou pronta mãe. Ver as pessoas sorrindo, falando, vindo até mim... Eu não tenho a mesma energia.
Mãe: Mas se não sair daqui, nunca vai recuperá-la.-pegou em minha mão- A terapia te fez tão bem... Agora você precisa fazer sua parte. -abaixei minha cabeça- Mas vai ser tudo no seu tempo ok? Não se preocupe. -levantou minha cabeça com a mão em meu queixo e beijou minha bochecha- 
Eu: Obrigada mãe. 
Mãe: Quer voltar a dormir?
Eu: Não, vou tomar banho e baixar um livro que a Psicóloga me indicou.
Mãe: Ok. Qualquer coisa...
Eu: Já sei, tudo bem. -ela sorriu e saiu do quarto-

Liguei o notebook, peguei uma roupa leve e fui tomar banho. Saí do banho,me vesti, baixei o livro e comecei a ler as primeiras páginas. Meu corpo começou a pesar na cadeira, então levei o notebook para cama e depois do terceiro capítulo do livro dormi.


**

_Niall Horan



Mãe: Niall, não é uma escolha sua! Nós precisamos nos mudar! 
Eu: E meu emprego? Minha faculdade? Meus amigos?
Pai: Você pode voltar aqui quando quiser para visitar seus amigos.
Eu: Porra pai! Quando é que vocês vão dar importância ao que eu digo nesta casa?
Mãe: Olha como fala!
Pai: Já está decidido! Eu fechei a compra, nós fomos ao lugar, gostamos da casa, e vamos nos mudar amanhã.
Eu: Vocês não me chamaram pra conhecer a tal casa.
Mãe: Você estava trabalhando Niall. E se não fosse tão rebelde, talvez ouviríamos as suas opiniões.
Eu: Olha, eu poderia muito bem ficar aqui. Eu posso, sei lá, morar com o Liam. 
Mãe: Aquele usuário? Não mesmo!
Eu: Então eu fico aqui!
Pai: Nós vamos vender essa casa Niall. E você não vai morar sozinho enquanto não nos provar que tem responsabilidade pra isso. Junte suas coisas. Rápido. Amanhã saímos cedo.
Eu: Mas que droga! -soquei a parede e saí-
Mãe: Volta aqui Niall!

Não aguento mais ter que viver debaixo das asas dos meus pais, fazendo tudo que eles querem. A grana que eu ganho tocando guitarra nos shows ainda não é suficiente pra me sustentar sozinho e agora o pouco que eu recebia não tenho mais, já que vou ter que deixar a banda com meus amigos pra me mudar pra outra cidade. A única coisa que me acalma nesses momentos é pegar meu carro e sair dirigindo por aí sem rumo. Sei que quando voltar terei que enfrentar coisa pior, mas ficar ali ouvindo aquelas ordens ia me fazer perder a cabeça. 
Recomeçar, em outra cidade, outra faculdade, longe dos meus amigos, com pessoas estranhas e baladas desconhecidas. Só de pensar já sinto vontade de gritar. Eles sempre decidem tudo, o que for melhor para eles é o que fazem e foda-se o resto. Leah ainda não entende muito bem a situação, é muito nova, mas sei que essa mudança também não vai ser boa pra ela, ela tem dificuldade em fazer amigos, é anti-social, será que eles não pensam nisso? 
Parei o carro no acostamento da estrada. Respirei fundo. Apoiei minha cabeça em minhas mãos. Talvez eu possa conhecer pessoas legais, arranjar um emprego melhor, conhecer garotas mais bonitas, e quem sabe me adaptar mais rápido do que imagino... Mas se isso não acontecer eu vou fazer um inferno até termos que voltar pra cá. Dureza vai ser dar a notícia aos meus amigos... Mas se minha família vai, eu tenho que ir... Que seja pra melhorar.
Depois de me acalmar um pouco, dei a volta com o carro e fui pra casa novamente, afinal, tinha que arrumar minhas coisas para a mudança. Eles já mostravam interesse em se mudar, mas eu não pensei que seria tão rápido. Meu pai é um advogado de nome aqui na nossa cidade, mas ele sempre disse que precisava ir mais fundo, que precisava encontrar um lugar onde pudesse apresentar um desafio pra ele e lá vamos nós em busca de desafios. Não que seja uma coisa ruim... Eu gosto de desafios também. Só nunca pensei em ter que deixar o lugar onde nasci pra isso.

(Continua...)



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