One Life - Capítulo V



_Genna Gillies

“ Harry: Vem Gen, confia em mim!
 Eu: Espera.

Harry começava a atravessar o precipício por uma ponte de madeira e corda, era velha e estreita. Sua mão estendida pra que eu fosse com ele, quase me convencia, mas eu sentia muito medo. Era tão alto.

Harry: Anda logo! -peguei em sua mão e subi na ponte, logo ele me envolveu com um abraço- Eu te amo Gen. Nunca se esqueça disso.

Fiquei emocionada, era tão bom sentir esse abraço. Ele me soltou de seu abraço e continuava a travessia na minha frente. Eu olhava pra baixo, me sentia tonta. A ponte balançava a medida que andávamos e não tinha nada para se segurar, era puro equilíbrio, mas quando Harry olhou para trás e encarei seus olhos verdes, senti algo muito forte no peito, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e meu corpo enfraqueceu, a medida que a ponte balançava eu parecia perder o sentido, foi quando me desequilibrei e meu corpo se curvou para o lado. Eu estava prestes a cair sobre um precipício...”

Eu: HARRY!

Olhei para os lados, percebi que estava em meu quarto, sobre a cama, sã e salva. Respirei fundo, até me dar conta que só havia sido um pesadelo. Levantei-me e fui ao banheiro lavar meu rosto. Olhando no espelho, eu via meu rosto magro e descorado. Preciso confessar que já fui mais bonita que isso. Fiz minha higiene matinal, estendi a cama e me sentei na beirada. O relógio na parede indicava 7 horas e 15 minutos.  A esta hora eu já estaria na faculdade. Estudava integralmente, à manhã e à tarde. Olhei pra meu corpo. Eu nunca fui gordinha e nem muito magra, mas depois de meses e meses trancada em meu quarto eu parecia esquelética. Minhas pernas, braços, pescoço, tudo muito fino. E eu só me dei conta disso agora. Afinal, ultimamente a última coisa que me passava na cabeça seria futuro, planos e eu mesma.
Olhei para janela e me lembrei da conversa de ontem com minha mãe. Já que estou voltando a comer, falar com meus pais e sair do meu quarto pra pelo menos assistir TV, acho que já posso fazer mais. Preciso voltar a viver de verdade. Colocar minha vida nos eixos. Perdi um ano trancada nesse quarto, sem falar direito com meus pais, sem ânimo pra absolutamente nada e agora me sinto uma velha de 90 anos. Eu preciso honrar o que sempre pedi para Harry quando ele ainda estava aqui. Eu pedia que ele lutasse, resistisse, e não desistisse. Então por que eu faria diferente? Sei que agora minha autoestima está um lixo, me sinto sozinha e feia. Mas se já fui uma pessoa confiante, tenho condições de chegar lá de novo e até ser melhor do que antes. É chegado o momento de mudar. Só tenho 19 anos e se tem uma coisa que nunca gostei, é perder tempo.
Levantei da cama, peguei minha agenda na gaveta. Lá já tinham muitas anotações da faculdade, então minha primeira meta agora seria comprar uma agenda nova e nela escrever meus planos, sem deixar o desânimo e tristeza me vencerem. Depressão não é algo incurável, e só de pensar assim, já me sinto melhor. Peguei meu notebook, baixei uma playlist só com músicas animadas do momento, depois coloquei para tocar e enquanto isso fui olhar meu guarda roupas. Acho que já está na hora de fazer umas comprinhas e separar algumas roupas que já desapeguei para doação. Fiz o mesmo com os sapatos e maquiagens. Enquanto guardava meus cremes ouvi um barulho de porta de carro batendo vindo da rua. Desliguei o notebook e fui até a janela.
Uma mulher loira junto com uma garotinha saiu do carro vermelho estacionado do outro lado da rua e ficaram olhando para casa do Harry, então percebi que a placa de venda já não estava mais lá. Assustei-me e logo deduzi que a casa havia sido vendida, e tive certeza quando um homem bem charmoso saiu de dentro dela e foi até a mulher loira a dando um selinho e pegando em sua mão para entrarem na casa juntos. Fiquei mais um tempo observando e chegou outro carro. Um carro preto, parecido com o do meu pai, dele saiu um garoto loiro que também seguiu para casa, provavelmente era filho do casal. Ele olhou pra minha janela antes de entrar na casa e me escondi antes que ele me visse. Coloquei a mão sobre o peito pelo susto e resolvi parar de olhar, afinal, não quero parecer a vizinha bisbilhoteira.

Mãe: Gen? Já está acordada?
Eu: Mãe, quero falar com você e o papai.
Mãe: Tudo bem. Hoje só tenho uma cliente. Vem, vamos tomar café.

Fomos para a cozinha... Agora já eram 9 horas. Meu pai estava no “escritório” dele. É onde ele trabalha em casa quando não está na empresa. Minha mãe foi chama-lo e fiquei os esperando, então eles voltaram e se sentaram a mesa.

Eu: Bom, eu só quero que vocês saibam que eu tomei uma decisão. –eles prestavam atenção- Não vou mais ficar trancada no quarto vendo o tempo passar. Quero voltar para faculdade, vou continuar a terapia aos sábados e conseguir um emprego. –os dois sorriram-
Pai: Filha, isso é ótimo. –se levantou e me deu abraço-

Logo minha mãe também se levantou e demos um abraço juntos.

Eu: Obrigada pelo apoio de vocês. Vou voltar a ser a Genna e chega da Genna Depressão. –eles sorriram novamente-
Mãe: Genna Gillies ou Genna Depressão, sempre foi a nossa filha. Qualquer decisão que tomar, vamos estar do seu lado.

Senti como se tivesse os melhores pais do mundo. Dei um beijo na bochecha de cada um e depois do abraço, nos sentamos a mesa novamente, comecei a tomar café.

Eu: Parece que conseguiram compradores pra casa. A placa não está mais lá e vi umas pessoas chegando.
Mãe: É mesmo? Então temos que ir lá desejar boas vindas e convidá-los para um café.
Pai: Vamos com calma Michelle. Parece que acabaram de chegar.
Mãe: Sim, mas eu não quero ser uma vizinha desleixada. Quero ter uma boa relação com eles.
Pai: Nem sabemos se é boa gente.
Eu: Bom, deduzi que seja um casal e dois filhos. Um rapaz e uma garota pequena.
Mãe: Pessoas boas ou não, temos que ser educados.
Pai: Então espere que pelo menos se mudem direito. –minha mãe revirou os olhos me fazendo sorrir-

Terminei de tomar café, minha mãe foi para o trabalho e meu pai voltou para o escritório. Voltei ao meu quarto para me vestir, iria até minha psicóloga para passar a terapia para os sábados, depois iria ao shopping comprar algumas coisas. As roupas que separei para doação deram duas caixas cheias, depois as levaria a alguma instituição de caridade. Peguei meu celular, baixei somente o Instagram. Não quero enchê-lo de redes sociais, nunca gostei muito mesmo. Minhas fotos antigas ainda estavam lá e várias delas eram com Harry, isso mexeu um pouco comigo, mas ao invés de chorar, senti uma coisa boa, saudade, mas também lembranças de momentos bons que passamos.



Deixei o celular sobre a cama e fui me arrumar...


Peguei uma bolsa, coloquei minha carteira, meu celular e minhas chaves. Avisei ao meu pai que iria sair. Ele me ofereceu o carro, estava um pouco insegura ainda, então resolvi ir de taxi mesmo. Chamei o taxi, esperei um pouco e quando ele chegou fui direto ao Shopping e depois passaria na Clínica.
No shopping fui às minhas lojas preferidas. Algumas pessoas devem achar estranho uma garota saindo às compras sozinha, mas já me acostumei com isso. Antes eu saía com Harry, ele tinha paciência com minha exigência e esperava eu experimentar quase toda a loja, fora isso, sempre fiz tudo sozinha.
Comprei perfume, bolsas, maquiagem, sapatos, acessórios e roupas. Saí de lá cheia de sacolas e liguei para o táxi. Decidi falar com a Psicóloga por telefone mesmo e fui direto pra casa. Como o período letivo acabou de começar, posso voltar à faculdade na próxima semana e depois procurar um emprego à noite.
O almoço já estava pronto quando cheguei. Deixei minhas coisas no quarto e fui almoçar.

_Kate Horan

A ansiedade para a mudança finalmente passou. A casa é realmente maravilhosa. Grande, espaçosa, cômodos bem divididos, em uma rua tranquila, nossos móveis se encaixaram perfeitamente em cada cantinho dela e ainda tem um porão para Niall colocar seus instrumentos. Com a ajuda de alguns montadores e designers de interior, finalizamos rapidamente a mudança.  A nossa antiga casa também era ótima, mas não posso negar que esta superou minhas expectativas. Além disso, ela tem uma garagem enorme. Cabem três carros ali. Só espero que Niall e Leah se adaptem logo ao lugar, pois não quero ter problemas com eles.
Niall reclamou do quarto dele, disse que é menor que o que ele tinha, mas na verdade eu sei que isso é só resistência, o quarto é do mesmo tamanho do outro e ainda tem uma sacada pequena. Leah ficou em um quarto menor, mas ela não precisa de muito espaço, só o suficiente para fazer as pinturas que ela tanto ama.
Estava cobrindo a cama, quando ouço a campainha. Acabamos de nos mudar e a campainha já está tocando... Quem pode ser? Ajeitei o cabelo e fui atender a porta. Era uma mulher, morena, e muito bonita, mas nunca a vi antes.

Xx: Olá, tudo bem?
Eu: Oi...
Xx: Eu sou Michelle, Michelle Gillies. Moro aqui do lado, vi que vocês se mudaram hoje.
Eu: Ah, sim... Eu sou Kate, que prazer em conhecê-la, não quer entrar? –nos cumprimentamos com beijinhos-
Michelle: Não, não quero incomodar. Só vim mesmo desejar que sejam bem vindos e oferecer para, quem sabe, um café em minha casa hoje. Assim a gente pode se conhecer melhor.
Eu: Olha, eu não quero ser deselegante, mas é que até a tarde talvez ainda tenhamos mais o que por em ordem por aqui.
Michelle: Ah que pena...
Eu: Mas, olha, eu gostaria muito.
Michelle: Entendo. Que tal um jantar então? Assim vocês ganham mais tempo e não perdemos a oportunidade.
Eu: Está ótimo. Perfeito.
Michelle: Então, vai ser um prazer. Eu trouxe essa torta de banana para você, espero que goste.
Eu: Nossa, você é muito gentil, obrigada.
Michelle: Espero vocês para o jantar.
Eu: Muito obrigada. –nos despedimos com beijinhos outra vez-
Michelle: Até mais...
Eu: Tchau.

Esperei que ela se afastasse e fechei a porta. Parece que a vizinhança é ótima. Gostei dela. Bonita, educada, elegante e muito gentil. Me deixar uma torta...
Levei a torta para a cozinha e coloquei sobre a mesa. Me virei para voltar ao quarto e vejo Niall vindo em minha direção.

Niall: Quem era?
Eu: Nossa vizinha. Deixou uma torta e nos convidou para um jantar. Ainda existem pessoas gentis nesse mundo.
Niall: Que coisa mais antiga. –disse com desprezo-
Eu: Eu gostei. –ele se aproximou, cortou um pedaço da torta e comeu-
Niall: Você vai nesse jantar?
Eu: É claro que nós vamos, e ainda quero retribuir o agrado.
Niall: Nós?
Eu: Sim. TODOS nós. –ele gargalhou-
Niall: Eu estou fora. Não vou jantar na casa de pessoas que eu nem conheço.
Eu: Niall, por favor, não seja esnobe com nossos vizinhos.
Niall: Não estou sendo esnobe. Só não quero ir. E a torta... É boa. –disse saindo da cozinha-
Eu: Niall... –me ignorou e saiu-

Suspirei e balancei a cabeça negativamente. Esse garoto está ficando cada vez mais difícil. Tirei um pedaço da torta para mim e estava mesmo uma delícia. Agora estava ansiosa de novo, queria logo que Jasper saísse do banho para conta-lo do convite de hoje. Decidi que faria uma torta também, mas uma torta de frango que só eu sei fazer. Deus me livre chegar lá de mãos vazias depois de uma recepção dessas.

(Continua...)


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